Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, EPE
 Cabeçalho Serviço Hematologia CHC
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Historial

Criado em 1974 para satisfazer as necessidades de sangue do CHC, o Serviço de Hematologia desde cedo se impôs no panorama médico português enquanto modelo de perseverança, qualidade e eficácia na prestação dos cuidados de saúde.

Depois de dois anos dedicados em exclusivo à prática clínica, o serviço sentiu necessidade de ir mais longe e decidiu investir na vertente laboratorial.

Dos primeiros tempos, vividos em torno de um pequeno laboratório improvisado, resta apenas a memória. Impelido pela força motriz do extremo empenho e competência da sua equipa, o Serviço cresceu, diferenciou-se e apostou na investigação e na formação de novos profissionais, procurando cultivar uma relação de proximidade com o mundo académico e com instituições de renome de outros países.

Em finais de 1976, foi possível implementar um conceito moderno de Hematologia, de inspiração anglo-saxónica, que conjuga a prática laboratorial da Hematologia com a clínica e a transfusão. Um pequeno laboratório de Hematologia foi improvisado com umas bancadas de cozinha, meia dúzia de bancos e algum equipamento laboratorial, criando as condições para o diagnóstico das doenças do sangue, leucemias e linfomas em particular.

Ao fim de dois anos de actividade, as necessidades do CHC em sangue ficaram satisfeitas e a qualidade do serviço clínico e a capacidade de diagnóstico laboratorial impunham a imagem do Serviço a nível regional e nacional. O aumento progressivo do afluxo de doentes, a diferenciação da capacidade de diagnóstico e a sofisticação crescente dos recursos terapêuticos obrigaram à diferenciação de Unidades com autonomia técnica e científica, ocupando o mesmo espaço físico e usando os mesmos recursos humanos.

Hematologia Laboratorial

Os primeiros tempos foram difíceis e se não fosse a boa vontade e extrema dedicação do pessoal técnico e médico não teria sido possível obter do equipamento, escasso e obsoleto, o rendimento necessário para assegurar os pedidos de análises hematológicas do CHC.

Com perseverança, entusiasmo e o apoio de muitos, foi possível criar uma reputação de eficácia e qualidade e obter da parte de algumas firmas comerciais o apoio em recursos tecnológicos. O apoio na avaliação de novos equipamentos e metodologias, actividade desenvolvida com independência e isenção em conformidade com parâmetros internacionais, contribuiu para consolidar a reputação da nossa actividade.

Na boa tradição da Hematologia anglo-saxónica considera-se que o pedido de qualquer investigação hematológica corresponde a uma solicitação de apoio da Hematologia na interpretação dos resultados, sendo as investigações especiais decididas em função do diálogo estabelecido com o clínico. A valorização das alterações morfológicas do sangue periférico e a interpretação de resultados anormais são acompanhadas de comentário clínico de diagnóstico ou de orientação. No caso de situações complexas, os doentes são visitados pelos médicos do Serviço e as investigações complementares decididas em função dos dados da correlação clínico-laboratorial. O número destas consultas cresceu, aumentaram as solicitações provenientes de outros Serviços e a disponibilidade para elucidação de problemas hematológicos é permanente. Os doentes com resultados hematológicos anormais tinham uma ficha de dados cumulativos e, com o desenvolvimento das tecnologias informáticas, rapidamente se iniciou a informatização de todos os parâmetros.

Imunohematologia

A exiguidade e a má qualidade das instalações do Serviço foram pretexto para acabar com a prática da dádiva dirigida com recurso a dadores familiares, que foi substituída por um programa de divulgação e educação da população, promovendo a dádiva anónima e ensinando que dar sangue é um dever cívico simples e divertido.

A estratégia delineada, baseada na experiência de outros países e tendo em conta os diferentes aspectos de ordem técnica, consistia em procurar aumentar o número de dadores potenciais e reduzir as colheitas por indivíduo a uma por ano. O objectivo era assegurar dadores regulares, em sessões de colheita em fábricas, associações e comunidades, em número suficiente para um planeamento ordenado. Foi dada particular atenção à formação do pessoal nos aspectos técnicos da colheita e recepção de dadores, identificação de indivíduos motivados para a promoção da dádiva e envolvimento dos dadores na definição dos aspectos organizativos.

A colheita de sangue obrigava entre uma a três deslocações por semana, na maioria aos sábados e domingos, de uma equipa constituída por um a dois médicos, dois a quatro enfermeiros, a nossa dedicada assistente social D. Maria Adelaide e um condutor hábil na estrada, proficiente e entusiasta no apoio aos dadores após a colheita e eficiente na solução de pequenos problemas logísticos resultantes da carência das instalações e da pobreza dos nossos recursos. Os esforços feitos foram largamente compensados com o número de dadores regulares a ultrapassar a capacidade de recolha e as nossas necessidades, com benefício para outros hospitais da região e Associações de Dadores.

A criação do Centro Regional do IPS em Coimbra, como estrutura centralizadora na promoção da dádiva, angariação de dadores e colheita de sangue, foi um factor determinante de modernização e melhoria técnica e condicionou a desactivação gradual da nossa actividade nessa área.

Na área laboratorial foram implementadas as técnicas serológicas para o estudo dos grupos sanguíneos recomendadas pela OMS, de estudo de anemias hemolíticas imunes, de separação e preparação de componentes e de controlo de qualidade. As inovações tecnológicas que iam surgindo nesta área – automatização, meios sólidos, entre outras – foram avaliadas regularmente e introduzidas na rotina laboratorial na medida das conveniências.

O problema das doenças transmissíveis pelo sangue criou a necessidade de desenvolver uma secção laboratorial vocacionada exclusivamente para o estudo de vírus por técnicas de imunodetecção no rastreio da infecção por hepatite B e C e HIV nos dadores e de diagnóstico em doentes das três instituições do C.H.C. Aproveitando a tecnologia existente, foram introduzidas novas técnicas laboratoriais para dar resposta às solicitações dos utentes.
A necessidade de informatizar a área da programação da dádiva, planeamento da actividade de colheita e a actividade laboratorial deu origem a uma colaboração com uma entidade comercial para a adaptação e conversão de um programa informático integrado de gestão de Banco de Sangue.

Ao pessoal médico cabe ainda a responsabilidade de uma consulta semanal de patologia hematológica de causa imunológica – trombocitopenias e anemia hemolíticas imunes, entre outras, para além da solução de problemas pontuais dos serviços do C.H.C. relacionados com a hemoterapia.

Centro de Hemofilia

Os avanços consideráveis do conhecimento e da tecnologia laboratorial na área das doenças hemorrágicas e trombóticas conduziram a um aumento considerável do número de situações patológicas identificadas e no tratamento e monitorização dos doentes.

A complexidade dos problemas resultantes da terapêutica substitutiva em doentes com coagulopatias congénitas e o afluxo crescente destes doentes (a grande maioria dos doentes da região Centro) causam uma sobrecarga considerável na actividade clínica da unidade.

Desde o início foi estabelecida como prioridade ensinar os “doentes” e familiares a “viver com a hemofilia” procurando obter a auto-suficiência nas medidas profilácticas, no tratamento substitutivo e na actividade de recuperação. O contributo de alguns jovens com hemofilia, que tinham a vivência de outros centros europeus, foi determinante na concretização desta prática.

O advento das técnicas de biologia molecular veio dar uma nova vida a esta área da Hematologia. Solicitados para dar respostas precisas em situações clínicas de coagulopatias hereditárias – diagnóstico ante natal de hemofilia, por exemplo - ou para satisfação de “modas” como a identificação de factores de risco de trombofilia, foram criadas as condições para o estudo molecular das doenças da hemostase.

Hematologia Clínica

Criadas as condições para o diagnóstico de doenças hematológicas e os meios para obtenção de sangue e seus componentes, a actividade assistencial - consulta externa e internamento - teve um desenvolvimento explosivo e exponencial, apesar das limitações e da modéstia das instalações.

A afluência de doentes e diversidade das patologias condicionou a criação de consultas específicas consoante as entidades nosológicas.

As consultas têm lugar de segunda a sexta-feira a partir das 8h30; a maioria dos doentes recebe tratamento em regime de hospital de dia.

Dadas as características “sui generis” da enfermaria de Hematologia, é feito um esforço para reduzir o mais possível o recurso ao internamento, mas, dada a exiguidade das instalações, cerca de metade dos doentes acaba por ser internada noutras enfermarias do hospital.

No Hospital Pediátrico, a consulta tinha lugar num corredor adaptado com duas divisórias em painéis de alumínio, onde o acto clínico era compartilhado pelos doentes e familiares, tendo como música de fundo as manifestações de desagrado dos pequenitos à colheita de análises e ao tratamento com citostáticos.

Laboratório de Hemato-Oncologia

A necessidade de monitorizar as populações linfocitárias nos doentes infectados com HIV e a esperança de que a caracterização imunofenotípica dos linfomas poderia contribuir para uma melhor definição da estratégia de tratamento, propiciaram a reabilitação da citometria de fluxo, com melhoria substancial da tecnologia.

Este facto, associado ao interesse das firmas representantes em promover a divulgação da metodologia no país, condicionou a escolha deste serviço na sua avaliação em colaboração com a cátedra de Hematologia de Salamanca. A oferta de um citómetro de fluxo e a colaboração interessada das firmas deram azo a uma actividade prestigiada e muito solicitada por outras instituições hospitalares.

Gabriel Tamagnini, Director do Serviço de Hematologia – 1976 a Janeiro 2004

Dr. Tamagnini
Dr. Victor Valente